Destoar
- gadelhafarias
- 4 de out. de 2016
- 1 min de leitura
Esse lugar era branco.
E foi ficando com cara de rua.
Não essa rua que você decifra de dia
Mas essa que vive e se recria quando anoitece
Essas paredes foram bebendo tinta muito antes de suas cores
Nasceram de vivências outras
De partilhas e recriações
E taí em cada esquadro um pedaço de todos nós
O chão é trilha para os pés que não conhecem essa cidade
Vai desviando dos refugos ressignificados
Vai olhando o teto, as paredes, vai descobrindo rotas
E nesses desvios silêncios são coloridos em letras tantas
E uma vastidão que vai se abrindo
Dizeres desconhecidos ao teu familiar
O caos te convidado para dançar
E você nem percebeu que cada olhadela, pé subindo, descendo, indo pra direita, esquerda, desviando do papelão, cabeça abaixando, braço encolhido e a sua mende em pleno voo, já era dança.
Seguem os olhos para mundos tão ricos em suas potencialidades
Gírias e vocábulos que você nem escuta, finge que não vê, acostumou a ignorar
Mas taí na sua frente a te confrontar
Aproveita e senta nesse sofá
Deixa esse lugar te serenar
Pois há sempre paz no meio do caos
E vai se sobrepondo às paredes
Virando esse menino de olho vermelho
Esse alguém na praça sustentado por outro menino gigante que dorme
Cacheia tuas dúvidas na preta que sonha ali no canto da parede
No bailar dos ratos ou naquele barraco feito às pressas logo na entrada
E abre teus olhos pras figuras que nascem de projeções vastas
Dos sons que fluem de todos os lados
E escuta pela primeira vez esse destoar
Aproveita pra redescobri a si mesmo nessa travessia
Pelas mesmas ruas que trafegas em horas outras
Mas que cá estão para se revelar.
Por Tamires Ferreira
ความคิดเห็น