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[ Foi Sal ]

  • gadelhafarias
  • 20 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

E se dançar é produzir estado de alegria no corpo, então foi sal!

No aniversário da escola Porto Iracema das Artes, se teve o convite de propor uma atividade nesse dia. Tendo o Afrontamento como um espaço onde outras pessoas podem chegar perto e de alguma forma um espaço construído como lugar de abertura para pensar proposições negras colaborativas, decidimos realizar um aulão de modalidades de danças que não chegam em determinados circuitos artísticos hegemônico da cidade. Resistimos e mandamos o recado na comemoração de forma a gerar outros movimentos no Porto.

A base do funk, reggae do passinho, swingueira e o vogue, pensamos que mais do que dar uma aula em si sobre esses estilos, era uma maneira de politicamente tensionar o local, haja vista, que alguns processos artísticos na escola de arte, pouco são atravessados pelo potencial expressivo no qual os modos de pensar/fazer arte nas periferias são gritantes. Alguns estilos de dança são invisibilizados nos circuitos (estabelecidos) de dança na cidade? Sim! Sem falar que esse acontecimento também foi um disparo diante da "Falsa Cultura" e "Crime de Saúde Pública" que está sendo encarnado no funk, pois parlamentares maquinam um projeto de lei que criminaliza o funk. Entendemos que mais do que criminalizar o funk, esse projeto de lei é também uma forma de reforçar a criminalização das expressões negras artísticas das periferias. Porque se a gente pensar no espaço de funk e de outros estilos que são fundamentais na expressividade artística das 'quebradas', o espaço é de socialização, protesto e manifestação da população negra. Dessa forma, essa proposta quer é cada vez mais reforçar o aniquilamento das juventudes, das periferias e da população negra.

Com isso, esse aulão teve escuramente o propósito de afirmar que existem sim outros modos de fazer/pensar a dança, como um disparo protesto, seja em si para escola de artes, como da bancada conservadora parlamentar, que são muitos, que querem continuar uma barbárie aonde tem cor, alvo e local.

Esteve com a gente, o Ballet MTD (Mete Dança) na swingueira, Acuã Lima no vogue e funk e no passinho do reggae, Cel e Heitor (Coletivo Natora). Pessoas que de alguma forma, circunscreve no circuito e territórios estabelecidos, formas outras de viver a cidade, os encontros e o negro na cidade. Encarnado por resistências singulares e perspectivas de olhar a vida distintas, nosso encontro produziu alegrias que reverberou a aula em si naquele dia. O encontro foi capaz de gerar naquelas paredes brancas da escola uma cor diversa, plural, ruidosa. Que diversos dançares cabe no encontro e, que esse, impulsiona formas outras de reexistir juntos, fortes. Foi potente ver no outro dia, um trabalhador do serviço gerais escutando swingueira no seu celular conforme limpava o banheiro. Escutando em um alto/bom tom e dançando um estilo no qual perguntei se ele gostava mesmo. E o mesmo fala que sempre dançou swuingueira, mais não sabia que “aquele” estilo de música podia ser escutando dentro da escola de artes.... pow, pow, pow. Que é isso gente? Que modos estamos construindo equipamentos aonde não se ver/sente transversalidades nos modos expressivos de se fazer/pensar ou não a arte? Que estamos fazendo dessa chancela de privilégio que a arte tem em não estar aberto as formas outras de viver a vida e, porque não de se fazer artes? Naquele momento em ocasião, Afrontamento começou a vibrar cada vez mais e, ali, podia o projeto terminar com essa fala, esse momento. Mais ei de continuar na tentativa de cavar cada vez mais espaços e junto das pessoas produzir movimentos, danças, aulões... O dançar começa no encontro! Quando se faz vazar o lugar estabelecido em um processo de criação em arte, aí começa o trabalho. Do que se escorre, do que não se captura, do que fura, do que toca e dança conforme se organiza/desorganiza, é apontada uma possibilidade de se fazer dança.

Periferias reunidas, funcionários da escola saindo dos seus cubos brancos pra dançar, o Gil ali na sua lanchonete mexendo a cabeça, a galera fazendo equilíbrio com cabos de vassoura, pessoas-potencias do outro lado de fora da escola balançando a cabeça conforme os beats se davam, sorrisos que escapavam conforme se dava uma sarrada coletiva no ar, passos-sequências que buscavam dialogar, corpos/danças que faziam vibrar um sentimento de pertença e uma louca sensação que ia do prazer a gargalhada genuia e, tantas outras coisas que não conseguia captar naquele dia, foi um testemunho vivo de resistência e capacidade de ligar mais quebradas que o google maps que Afrontamento busca. Inventar lugares e danças com as pessoas que faz misturar nosso caldo. Foi grande, sim!

A ideia com Afrontamento é mesmo trocar ideias, ir aprendendo com o semelhante e continuar o exercício de ir trocando/experimentando juntos. Um com o outro, na premissa mais genuína. Daqui a pouco, quando nós vermos, é nós fazendo o nosso mesmo. Fazer o nosso, do jeito que nós queremos e sabemos fazer. Foi significativo e muito importante. Nossa força é nossa poética: certeira, alegre e afrontosa. Não podia ter sido melhor, gerou e foi só um exercício, só começou! É noiz, pai!

Foto: Joyce S. Vidal


 
 
 

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Afrontamento consiste numa experimento em dança contemporânea a partir de uma investigação do corpo roleta russa.

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Agradecimentos e Incentivo

Programa de Laboratórios de Criação do Porto Iracema das Artes – Escola de
Formação e Criação do Ceará, Instituto Dragão do Mar e do Governo do Estado do
Ceará/Secretaria da Cultura.

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